Adriana Carranca
A sociedade já não se divide entre adultos conservadores e jovens revolucionários e progressistas. Pesquisa inédita do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e do Instituto Pólis, com 14 mil jovens entre 18 e 29 anos e adultos de seis países da América Latina, aponta mais semelhanças e menos conflitos entre gerações. Pais e filhos concordam sobre temas tão polêmicos quanto a legalização da maconha, aborto, pena de morte e homossexualismo.
"Criamos estereótipos como o de que jovens seguem tendência libertária e velhos, conservadora. Mas, não há mais tanta diferença em termos de valores e opiniões", diz a socióloga Helena Abramo, do Instituto Pólis e coordenadora do estudo no Brasil. "Temas antes capazes de produzir rupturas de comportamento e que polarizavam opiniões foram assimilados."
A antropóloga Regina Novaes, do Ibase, diz que o choque de gerações ainda existe em alguns aspectos, como religião, mas é mais "ameno". "Há menos pontos conflitantes e a tendência é de que desapareçam na medida em que jovens, nascidos em uma sociedade mais aberta ao diálogo e à diversidade, criem seus filhos sob os mesmos princípios." O resultado foi semelhante nos países da América Latina, segundo ela que coordenou o estudo na região.
É caso da jovem Maíra, de 21 anos, que considera a mãe Márcia, de 46 anos, uma amiga. "Com meu pai, eu ainda tenho vergonha de falar certas coisas, mas com ela falo tudo desde o primeiro namorado, quando eu tinha 15 anos." Maíra, o namorado, o pai e a mãe vão juntos ao cinema, bares e restaurantes. "Meu programa preferido é com eles", completa ela.
No Brasil, pais e filhos compartilham as mesmas opiniões sobre assuntos proibidos nas gerações passadas. Entre os entrevistados, 76,5% dos jovens e 78% dos adultos são contra a legalização do aborto. Sobre a pena de morte, 46% dos jovens e 45% dos adultos são a favor.
"Era de se esperar que, em assuntos como esses, os pais fossem mais conservadores e os filhos mais liberais", diz Regina.
As pesquisadoras não acreditam, no entanto, que as novas gerações estejam se tornando mais conservadoras. "Se por um lado são contra a legalização do aborto e a favor da pena de morte, de outro defendem a liberdade sexual e de expressão, são mais sensíveis à discriminação e às injustiças sociais", acredita a socióloga Helena Abramo. Na pesquisa, a corrupção e a desigualdade foram apontadas como as principais ameaças à democracia.
À pergunta sobre se concordariam em ter aulas - ou que os filhos tivessem aulas - com professor homossexual, 80% dos jovens e 74% dos adultos responderam que sim. "A pequena diferença se explica no fato de que os jovens de hoje tiveram exposição maior ao homossexualismo. Homens e mulheres não escondem a opção sexual, nos sites de relacionamento há comunidades em que meninos e meninas procuram jovens do mesmo sexo", diz Regina. "Além disso, há um discurso muito mais forte contra o preconceito."
Quando o tema é drogas, a diferença também é pequena, embora mais jovens (22%) do que adultos (15,5%) sejam a favor da legalização da maconha. "A diferença talvez venha do acesso mais fácil às drogas hoje. Não significa que sejam usuários, mas a aceitação é fatalmente maior", diz Regina.
Se opiniões semelhantes sobre temas polêmicos os aproxima, a religião distancia. O número de jovens que declarou não ter credo (14%) é o dobro dos adultos. "Não quer dizer que o jovem não tem fé: 11% deles disseram acreditar em algo, embora não sejam adeptos de uma religião, contra 5% dos adultos", diz Regina. Segundo ela, a imposição a um culto não é mais passada entre gerações. "Seus pais tiveram de adotar a religião dos avós, mas eles não. Veja o catolicismo que, embora predomine, diminui a cada nova geração. Hoje busca alternativas e faz sua própria síntese."
As preocupações sobre o presente e o futuro também aproximam. Para jovens e adultos, a questão mais importante é o acesso ao mercado de trabalho. Estudar e ter diploma vem em seguida. "Antes, todo pai achava que diploma era fundamental. Hoje, embora ainda deem valor para a educação, jovens e adultos vivem uma realidade em que o certificado já não garante emprego", diz Regina. A violência também pesa mais para as novas gerações do que para as anteriores e é apontada como o principal problema, na opinião deles e dos adultos.
COLETIVO ACORDA COMENTA:
Vejo com bons olhos a realização da citada pesquisa, uma vez que, com os resultados que foram obtidos, revela um pouco da "geração de pais" contemporaneas ao século XXI. No entanto, tendo em vista a utilização de conceitos como "conservadores" e "revolucionários", poderíamos entrar em um debate mais conceitual e fugir um pouco do tema central da pesquisa.
Enfim, é válido ressaltar que levantar o debate sobre: Planejamento Familiar, Aborto, Drogas, Violência, Trabalho, Religião, Economia etc. è fundamental para inserir sempre a opinião da Juventude, uma vez que sempre temos que considerar o jovem como um sujeito social inserido em projetos do presente e do futuro de uma nação.
Nesse contexto, parabenizamos o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e o Instituto Pólis pela organização dessa pesquisa.
"Criamos estereótipos como o de que jovens seguem tendência libertária e velhos, conservadora. Mas, não há mais tanta diferença em termos de valores e opiniões", diz a socióloga Helena Abramo, do Instituto Pólis e coordenadora do estudo no Brasil. "Temas antes capazes de produzir rupturas de comportamento e que polarizavam opiniões foram assimilados."
A antropóloga Regina Novaes, do Ibase, diz que o choque de gerações ainda existe em alguns aspectos, como religião, mas é mais "ameno". "Há menos pontos conflitantes e a tendência é de que desapareçam na medida em que jovens, nascidos em uma sociedade mais aberta ao diálogo e à diversidade, criem seus filhos sob os mesmos princípios." O resultado foi semelhante nos países da América Latina, segundo ela que coordenou o estudo na região.
É caso da jovem Maíra, de 21 anos, que considera a mãe Márcia, de 46 anos, uma amiga. "Com meu pai, eu ainda tenho vergonha de falar certas coisas, mas com ela falo tudo desde o primeiro namorado, quando eu tinha 15 anos." Maíra, o namorado, o pai e a mãe vão juntos ao cinema, bares e restaurantes. "Meu programa preferido é com eles", completa ela.
SEXO, DROGAS, FÉ E POLÍTICA
No Brasil, pais e filhos compartilham as mesmas opiniões sobre assuntos proibidos nas gerações passadas. Entre os entrevistados, 76,5% dos jovens e 78% dos adultos são contra a legalização do aborto. Sobre a pena de morte, 46% dos jovens e 45% dos adultos são a favor.
"Era de se esperar que, em assuntos como esses, os pais fossem mais conservadores e os filhos mais liberais", diz Regina.
As pesquisadoras não acreditam, no entanto, que as novas gerações estejam se tornando mais conservadoras. "Se por um lado são contra a legalização do aborto e a favor da pena de morte, de outro defendem a liberdade sexual e de expressão, são mais sensíveis à discriminação e às injustiças sociais", acredita a socióloga Helena Abramo. Na pesquisa, a corrupção e a desigualdade foram apontadas como as principais ameaças à democracia.
À pergunta sobre se concordariam em ter aulas - ou que os filhos tivessem aulas - com professor homossexual, 80% dos jovens e 74% dos adultos responderam que sim. "A pequena diferença se explica no fato de que os jovens de hoje tiveram exposição maior ao homossexualismo. Homens e mulheres não escondem a opção sexual, nos sites de relacionamento há comunidades em que meninos e meninas procuram jovens do mesmo sexo", diz Regina. "Além disso, há um discurso muito mais forte contra o preconceito."
Quando o tema é drogas, a diferença também é pequena, embora mais jovens (22%) do que adultos (15,5%) sejam a favor da legalização da maconha. "A diferença talvez venha do acesso mais fácil às drogas hoje. Não significa que sejam usuários, mas a aceitação é fatalmente maior", diz Regina.
Se opiniões semelhantes sobre temas polêmicos os aproxima, a religião distancia. O número de jovens que declarou não ter credo (14%) é o dobro dos adultos. "Não quer dizer que o jovem não tem fé: 11% deles disseram acreditar em algo, embora não sejam adeptos de uma religião, contra 5% dos adultos", diz Regina. Segundo ela, a imposição a um culto não é mais passada entre gerações. "Seus pais tiveram de adotar a religião dos avós, mas eles não. Veja o catolicismo que, embora predomine, diminui a cada nova geração. Hoje busca alternativas e faz sua própria síntese."
As preocupações sobre o presente e o futuro também aproximam. Para jovens e adultos, a questão mais importante é o acesso ao mercado de trabalho. Estudar e ter diploma vem em seguida. "Antes, todo pai achava que diploma era fundamental. Hoje, embora ainda deem valor para a educação, jovens e adultos vivem uma realidade em que o certificado já não garante emprego", diz Regina. A violência também pesa mais para as novas gerações do que para as anteriores e é apontada como o principal problema, na opinião deles e dos adultos.
FONTE:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090614/not_imp386912,0.php
COLETIVO ACORDA COMENTA:
Vejo com bons olhos a realização da citada pesquisa, uma vez que, com os resultados que foram obtidos, revela um pouco da "geração de pais" contemporaneas ao século XXI. No entanto, tendo em vista a utilização de conceitos como "conservadores" e "revolucionários", poderíamos entrar em um debate mais conceitual e fugir um pouco do tema central da pesquisa.
Enfim, é válido ressaltar que levantar o debate sobre: Planejamento Familiar, Aborto, Drogas, Violência, Trabalho, Religião, Economia etc. è fundamental para inserir sempre a opinião da Juventude, uma vez que sempre temos que considerar o jovem como um sujeito social inserido em projetos do presente e do futuro de uma nação.
Nesse contexto, parabenizamos o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e o Instituto Pólis pela organização dessa pesquisa.
Wallace Melo
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