Quando iniciei meus estudos universitários em Ciências Sociais, na PUC de Campinas, em 1966, havia quase dois anos que as classes dominantes tinham implantado a ditadura militar no Brasil. Já consciente do significado do golpe militar, passei a atuar no movimento universitário. O movimento estudantil cresceu significativamente, tornando-se a força política mais importante de resistência à ditadura. Esse crescimento intensificou-se em 1968, com inúmeras manifestações dentro das escolas e nas ruas. O AI-5, considerado o golpe dentro do golpe, quis fazer calar as vozes discordantes, com prisões, torturas e mortes, sobretudo na época do Governo Médici.
O movimento estudantil na época, considerando-se as principais tendências de esquerda que atuavam, tinha a perspectiva de conquista do socialismo. Acreditávamos que o grande entrave era a ditadura militar. Dessa forma, lutamos muito pelo fim do regime militar, entendendo que a queda desse regime, abriria grandes perspectivas para a conquista do socialismo em curto prazo. Foi muito importante a conquista da democracia na década de 80, mas não o suficiente para chegarmos à sociedade socialista. No final dos anos 80 e início dos anos 90, alguns acontecimentos desferiram um profundo golpe no coração dos que acreditavam que a conquista do socialismo estava próxima: a queda das experiências socialistas na União Soviética e nos países do leste europeu e a eleição de Collor como Presidente do Brasil. Diante desses fatos, muitos militantes sucumbiram e abandonaram a luta, com o pretexto da inviabilidade dos objetivos propostos.
Eu continuei entre aqueles que colocam o socialismo como grande objetivo estratégico, com a certeza de que os grandes problemas da humanidade não serão resolvidos no sistema capitalista, que contem, nas suas entranhas, a exploração. O fim da exploração significará o fim do capitalismo. Aprendemos que o tempo necessário para atingirmos esse objetivo estratégico é muito maior do que pensávamos, mas a sua viabilidade continua fortalecida. Na medida em que os trabalhadores e as trabalhadoras forem se conscientizando a respeito das causas profundas da fome, da miséria e de tantas outras mazelas, terão mais força para virarem o jogo. Muitas são as manifestações politizadas em vários países, destacando-se atualmente a grande mobilização do povo egípcio, que conseguiu derrubar o Presidente ditador.
No entanto, o socialismo só será viável, se contar com a participação dos jovens de hoje. São eles que poderão dar seqüência a essa luta. Ocorre que eles estão bombardeados pela mídia e pela necessidade premente de conseguir ou manter seus respectivos empregos. As idéias individualistas cresceram sob a influência nefasta do neoliberalismo, que por sua vez, contribuiu decisivamente para o crescimento do desemprego. As mudanças provocadas pelo Governo Lula abriram novas possibilidades à juventude, quer seja porque os postos de trabalho aumentaram, quer seja porque aumentou a possibilidade de que os jovens possam compreender melhor as características da sociedade na qual estão inseridos.
Hoje tenho cada vez mais a convicção da necessidade de desenvolvermos com muita força um processo de formação, que atinja os trabalhadores e as trabalhadoras, inclusive e com destaque, a juventude. Se os jovens entenderem o que é o capitalismo, as classes sociais nele inseridas, a importância do poder político, a história das lutas desenvolvidas pelos povos, as concepções que permeiam os movimentos sociais, e se dispuserem a entrar nessa luta, ao lado das classes dominadas (às quais eles, na sua maioria, pertencem), então poderemos acreditar que o socialismo chegará. E esse acreditar, não é algo idealista longe da realidade, mas é decorrência da própria maneira como o capitalismo se organizou, provocando o desenvolvimento da luta de classes, decorrente da brutal exploração a que os trabalhadores e as trabalhadoras estão submetidos.
por Augusto César Petta.
* Professor, sociólogo, Coordenador Técnico do Centro de Estudos Sindicais (CES), membro da Comissão Sindical Nacional do PCdoB, ex- Presidente do SINPRO-Campinas e região, ex-Presidente da CONTEE.
Fonte: http://vermelho.org.br
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