Por Karol Assunção
Sensibilizar os jovens para a questão patrimonial. Esse é o objetivo do Projeto Patrimônio para Todos. Desenvolvido desde 2009 pela Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho (EAO), equipamento ligado à Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult), o projeto neste ano contempla jovens de Fortaleza e de Aquiraz.
João Paulo Vieira Neto, historiador e coordenador pedagógico do projeto, explica que a intenção é oferecer oficinas de sensibilização patrimonial para jovens moradores de comunidades atendidas pela iniciativa. "A ideia é inverter a lógica de preservação patrimonial. Nas comunidades, não é o técnico que diz quais bens serão preservados. Os facilitadores ouvem os jovens e aí temos uma ampliação da noção de patrimônio”, explica.
De acordo com João Paulo, nas oficinas, os jovens percebem que patrimônio pode ser não apenas prédios antigos e históricos, mas também saberes e práticas que fazem parte da comunidade deles, como a casa e os conhecimentos de pescadores, os terreiros de umbanda, as práticas das rezadeiras, entre outros.
"Que os jovens possam conhecer um pouco o próprio lugar onde vivem, a trajetória de vida dos familiares e vizinhos. A intenção é conhecer para intervir”, comenta, ressaltando a importância de o jovem conhecer o mundo que o cerca levando em consideração a construção social e reflexões históricas.
Participam desta edição cerca de 520 jovens de comunidades com baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) de Fortaleza e Aquiraz. Os facilitadores das oficinas também são jovens entre 18 e 29 anos que se candidataram ao projeto por meio de edital. Os 26 selecionados participaram de capacitações e agora compartilham os conhecimentos com outros jovens através de oficinas que acontecem até este sábado (26).
Além de discussões e debates sobre conceitos de patrimônio e identidade cultural, os participantes percorrem as comunidades com o objetivo de identificar e registrar os patrimônios locais através fotografias, vídeos, desenhos e até músicas que são postadas no blog do projeto (http://patrimonioparatodos.wordpress.com/).
O jovem como facilitador:
Ninguém melhor do que o próprio jovem para discutir e debater com outros jovens sobre patrimônio local. É por isso que os facilitadores são pessoas que têm faixa etária próxima a dos participantes. De acordo com João Paulo, muitos do que agora assumem a posição de facilitador já participaram das edições anteriores do projeto como estudantes. "A ideia é que os capacitados sejam futuros facilitadores e atuem como provocadores [da questão patrimonial] no bairro”, comenta.
Cassia Costa, de 22 anos, é facilitadora das oficinas desde a primeira edição do projeto. "É uma grande experiência, cada oficina é única. [O projeto] engrandeceu minha vida profissional e pessoal, abriu muitas portas. Como sou mais ou menos da mesma idade dos participantes, cria um laço de amizade. Sempre muda alguma coisa em mim quando converso com esses jovens”, relata.
Para ela, a iniciativa é importante porque incentiva a valorização da comunidade. Além disso, parte de questões discutidas pelos próprios jovens. "É uma construção do conhecimento. Eles que vão identificar os patrimônios”, afirma.
Pensamento que é compartilhado com Micharlles Paz, facilitador das oficinas de Messejana. De acordo com ele, os encontros partem de uma concepção "dialógica”, em que participantes e facilitadores têm direito à voz.
Micharlles destaca ainda a experiência de estar na posição de facilitador. "Não penso que vou dizer a verdade. Tento mostrar as múltiplas possibilidades”, comenta, ressaltando que preza pela postura ética, pelo posicionamento coerente com a dignidade da pessoa humana e o direcionamento político.
Fonte: Adital Jovem.